23 de agosto de 2015

SONETO LXXXVIII


  Quando me tratas mau e, desprezado,

Sinto que o meu valor vês com desdém,


Lutando contra mim, fico a teu lado

E, inda perjuro, provo que és um bem.

Conhecendo melhor meus próprios erros,

A te apoiar te ponho a par da história
De ocultas faltas, onde estou enfermo;
Então, ao me perder, tens toda a glória



Mas lucro também tiro desse ofício:


Curvando sobre ti amor tamanho,


Mal que me faço me traz benefício,


Pois o que ganhas duas vezes ganho.


Assim é o meu amor e a ti o reporto:


Por ti todas as culpas eu suporto.


William Shakespeare

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